Rafael Benassi*
À medida que cidades as cidades experimentam um ciclo de crescimento e desenvolvimento, atraindo novos investimentos e fortalecendo sua infraestrutura, surgem também desafios que vão além das questões técnicas e econômicas. Um fenômeno frequentemente observado em comunidades em expansão é o movimento NIMBY (“Not In My Backyard” ou “não no meu quintal”). Embora esse movimento, em muitos casos, envolva legítimos questionamentos sobre sustentabilidade e impactos ambientais, ele pode também ser, em algumas situações, uma forma de resistência velada contra mudanças que trazem benefícios para a coletividade, mas que, inicialmente, causam desconforto em alguns grupos.
O movimento NIMBY se manifesta de forma organizada em bairros ou regiões, seja contra novos empreendimentos imobiliários, obras de infraestrutura, como estradas ou sistemas de transporte, e até mesmo projetos de interesse público, como parques e instalações que visam à preservação ambiental. O que observamos, no entanto, é que essa resistência nem sempre parte de uma preocupação legítima com o impacto ambiental ou com o bem-estar da comunidade. Muitas vezes, o “direito de vizinhança” serve como um pretexto para a manutenção de privilégios, mantendo áreas mais valorizadas ou exclusivas longe da chegada de novas iniciativas, o que limita o acesso e o crescimento igualitário.
Em cidades como Jundiaí, que se tornaram polos de desenvolvimento no interior de São Paulo, o NIMBY pode ser um dos principais obstáculos ao desenvolvimento sustentável e inclusivo. O potencial da cidade para receber novos projetos habitacionais, comerciais e industriais se reflete na valorização dos imóveis e na chegada de infraestrutura. Contudo, essa mesma oportunidade de crescimento exige uma visão coletiva. As melhorias que beneficiam alguns devem ser compartilhadas e estendidas, para que todos, de fato, tenham condições de participar dessa evolução urbana.
Um exemplo prático envolve as áreas de preservação e as áreas verdes, que estão cada vez mais presentes em novos projetos, em consonância com demandas globais por sustentabilidade. A ampliação de vias de acesso e a instalação de equipamentos públicos são fundamentais para uma ocupação urbana planejada e responsável. No entanto, quando algumas comunidades resistem à inclusão de infraestrutura essencial para o desenvolvimento, com argumentos que preservam um “status quo” de exclusividade, corremos o risco de criar ilhas de progresso em meio a um mar de desigualdade.
Jundiaí, assim como outras cidades em expansão, precisa olhar para um modelo de urbanização que promova a inclusão. Precisamos pensar na mobilidade, na acessibilidade e na criação de espaços para todos. Por meio de diálogos francos com a sociedade, é possível buscar soluções que respeitem o meio ambiente e a identidade local, sem limitar o crescimento ordenado. O papel de empresas e lideranças, como o que buscamos implementar na Applausi, é planejar e executar projetos que dialoguem com o desenvolvimento sustentável e a integração social, promovendo um urbanismo inclusivo.
O desafio do movimento NIMBY em cidades em crescimento traz a nossa capacidade de balancear os direitos e as responsabilidades. Afinal, construir o futuro urbano que desejamos é uma responsabilidade compartilhada. É um convite a todos para participar de um movimento de expansão responsável e de crescimento que acolhe, em vez de excluir.
Todas as cidades têm a oportunidade de se tornarem modelos de urbanização sustentável e equitativa. Que possamos seguir por esse caminho, promovendo projetos que respeitem o meio ambiente, incentivem o desenvolvimento e garantam que o progresso não ocorra apenas “no quintal” de alguns, mas sim para todos.
Rafael Benassi, Arquiteto e Urbanista, é diretor da Applausi Construtora e membro do Conselho Consultivo da Construtora Santa Angela.